Um ano muito doido se passou. O Pablo nasceu, nós fomos para San Diego, montamos uma casa, passeamos bastante, conhecemos pessoas e lugares novos, falamos inglês. Nossa casa em Brasília passou por reforma, e um furto-rombo. Desmontamos a casa, voltamos para Brasília, voltei a trabalhar (três dias depois), o Dani com mil tarefas do doutorado para cumprir, se torna professor substituto da UnB. Eu com mil coberturas (Copa e Eleições entre elas, é, ainda não acabou, escrevo post de madrugada, com baixa frequência) e mil planejamentos. E no meio de tudo isso, uma criança.
Uma criança feliz, tranquila, sorridente, sociável. Uma criança ansiosa, com dificuldades de dividir, perfeccionista. Se vê num mundo totalmente novo: língua, casa, escola, igreja, cidade, estado, país, irmão, pais que não podem dar tanta atenção. Tudo novo. E sem nenhum amigo. Que seria difícil adaptar lá todo mundo sabia. E ela se adaptou. Tanto que não queria voltar. Tanto que fala desde que voltamos em ir morar em San Diego. Eu digo que eu e o pai dela não temos planos. Ela diz que vai sozinha.
– Só quando você tiver 18 anos, filha.
E ela acha que isso é ano que vem.
– Quando eu tiver 18 anos, eu não vou mais usar fralda. Quando eu tiver 18 anos, eu vou saber ler. #SabeDeNadaInocente!
Agora, a contar pela saudade que ela tinha dos amigos, da família, da babá, da escola, da igreja, a gente imaginou que a volta seria mais fácil. Não foi. Voltar foi difícil pacas pra Tetê. Foi tão difícil quanto ir, eu acho. A adaptação na volta demorou tanto quanto na ida: 3 meses. Foram três meses chorando na mesma escola da qual ela morria de saudades, com as amigas das quais ela falava todo-santo-dia. Essa eu não esperava. “Mamãe precisa trabalhar”, “mamãe gosta de trabalhar”, “eu é que queria ter um lugar assim legal pros adultos, mas só criança pode ficar na escola”. Ao que ela me responde:
– Mamãe, o seu trabalho não tem parquinho? Vou pedir pro Papai do Céu te dar um trabalho com parquinho!
E no outro dia, o mesmo para um trabalho com piscina. Nesse calor de meu Deus, seria uma ótima. Mas acho que ainda não inventaram um computador que pode molhar. Soube esses dias que celular já tem.
Por um milagre, o Pablo ficou bem tranquilo na adaptação na escola. Aí eu ia dar mamá pra ele todo dia e não era pra avisar a Tetê. Aí ela chorou tanto que resolveram ligar na minha casa. Aí meu marido disse que eu tava dentro da escola. Aí ela foi me ver e, em três dias, acabou o segredo. Hahahaha. Aí eu ia amamentar e ficar com os dois filhos. Ainda vou, há seis meses, quase sempre (flexibilizei pela primeira vez pra ver o jogo da Copa). Uma delícia no meio do meu dia.
A Maria Teresa chorava de manhã e de tarde. Era tenso e estressante. Graças a Deus, o Pablo não deu nenhum trabalho pra adaptar. Aí eu ia embora e a Tetê parava de chorar. Mas na apresentação de Dia das Mães ela não quis cantar (nem o sooool, nem o maaaaar, nem o briiilho, das estreeeeelas). Ficou chorando no meu colo. Nem na festa junina.Ela sentia saudade de mim, queria ficar comigo, não queria por o uniforme. Como é que a gente explica que San Diego foi só um sabático-cansativo nas nossas vidas, que a realidade era diferente?
E a gente trabalhando o slogan da escola, “lugar de gente feliz”, no coração dela. Até que um dia o Pablo chorou. E ela já ia chorando também.
– Ah não, Tetê, o Pablo já chorou hoje, você não vai chorar também, né?! É muito pro coração de uma mãe!
Aparentemente, meu apelo funcionou. Aos poucos, nos primeiros dias de julho, ela resolveu ficar feliz na escola. Graças a Deus. E consequentemente, a felicidade foi contagiando toda a vida da Tetê. Ela voltou a ser a Teresa de antes, sociável, cheia de amigos, cheia de histórias, feliz. Ufa. Até anima as aulas de inglês na escola… (sim, continuamos praticando o inglês!)
Tetê passou a brincar mais com o Pablo, e como eles se divertem junto! Ele admira absolutamente tudo na irmã! Acorda chamando a irmã, ajuda a passar creme na Teresa, adora brincar com tudo dela, roupas, acessórios, sapatos, brinquedos… (de um jeito um pouco diferente, digamos… as bonecas são atiradas contra objetos com força… cada vez que pega uma tiara, quase quebra… haja talento pra ensinar o bichinho a ficar menos bruto… e pra fazer a Tetê compartilhar… rsrs). Adora Peppa Pig, como ela! Aprendeu a cantar “peeeeta ig!”
Tetê ficou mais generosa. Empresta as coisas, compartilha até comida — ainda que um pouco a contragosto às vezes. A última moda por aqui é eles compartilharem iogurte.
Aí a gente fez uma festa conjunta pra eles, em São Paulo, né? A Teresa queria uma festa de Branca de Neve. Queria que o Pablo fosse príncipe.
– Tetê, tem que ser tema de menina e menino — disse eu. Ainda mais que era o um ano do bebê.
– Ah! Já sei! Faz de Carros, mamãe!
E era verdade, ela estava convicta.Aliás, depois da festa em São Paulo, começou o cumprimento das promessas para os quatro anos. Largou a fralda e a mamadeira, assim, um dia depois da festa. E começou a comer legumes, também. E usar uniforme sem outra roupa por baixo (hahaha! tudo era conjunto por aqui, e com apelido: roupa preta Monster Hig com boneca e tiara do mesmo tema; o laranja era da Mônica; tinha o da Monster High, o da Maria Bonita, o da Flor, o da Tetê roxinho, escrito Tetê). Tudo o que ela prometeu, ela cumpriu. Muito linda e responsável. E com isso, também ganhou o combinado: um patinete e o direito de dormir na casa da tia so-zi-nha.
E na escola, a festa foi festa de Branca de Neve, como desejado. Com a irmã Carol, que aniversaria no mesmo mês. Por falar em neve, Tetê voltou de San Diego com um sonho de conhecer a neve. Ela fala nisso to-da-se-ma-na. Acreditam?!
Esta semana, tive uma prova muito concreta de que ela está grande. Eu tinha reservado uma folga no meu trabalho, pra tirar se desse no dia do aniversário da Tetê (eu disse se desse, porque é véspera de eleições, né? Me contentaria com sair uma horinha mais cedo que fosse…).
– Tetê, a mamãe pode te buscar mais cedo na escola, se você quiser. Aí a gente vai passear só nós duas.
Ela me olha contrariada:
– Ah não, mãe! Eu quero passar o meu aniversário com minhas amigas!
– Você não quer sair nem um pouco mais cedo? Nesse dia a gente pode! Se você quiser, podemos ficar eu, você e o Pablo.
– Não, mãe. Não. Se você quiser, chama o Pablo pra ir com você. Mas eu não quero. Quero ficar com minhas amigas.
Hahahahaha. Aguentam essa?!
E agora:
– Mamãe, meus amigos do integal ainda não comemoraram meu aniversário. Leva pelo menos uma pipoquinha pra eles?!
Hahaha
#vaitrabalharmamãe.
Me senti preterida? Não, de jeito nenhum. Fiquei foi cheia de orgulho. Orgulho de ter uma filha que cresceu tanto em um ano. Que perdeu seus últimos traços de bebê (quer dizer, penúltimos… ela ainda aceita um colinho…). Que cuida de si e quer ganhar o mundo. Igual uma pessoa que eu conheço, ou melhor, duas. Eu e o Dani. Hahaha.
Tenho muito orgulho de você, Tetê. Tenho aprendido de um amor indescritível que é a maternidade, desde que você nasceu. Tenho orgulho da sua força e da sua capacidade de superação. Desde que você nasceu. Aliás, me sinto muito privilegiada de, entre 7 bilhões de pessoas que existem, eu ter o privilégio de formar família com três pessoas tão fantásticas. Muito amor e alegria para você, minha filha. Te amo mais do que qualquer palavra pode descrever.